sexta-feira, 4 de março de 2011

          
      
ESTEBAN, Maria e Tereza e ZACCUR, Edwiges (orgs.). Professora-pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002.
                                                 
De acordo com Maria Tereza Estaban e Edwiges Zaccur, a pesquisa por muito tempo foi tida como uma exclusiva do espaço acadêmico, pois nesse espaço é que ocorria a fundamentação teórica e metodológica da pesquisa. Daí decorre a seguinte indagação: como um professor da educação básica pode ser inserido no universo da pesquisa, não como objeto de pesquisa, mas como pesquisador? Esse artigo gira em torno desse e de outros questionamentos que dizem respeito ao valor da pesquisa na ação docente.
Os autores afirmam que, embora haja credibilidade nas pesquisas realizadas pelos pesquisadores brasileiros, poucas mudanças são vislumbradas no interior das escolas. Muitas são as pesquisas que trazem à tona as mazelas da educação como o analfabetismo e a exclusão, o que também tem sua importância no cenário educacional, o que não é cabível segundo eles diz respeito ao “fogo cruzado” existente entre o governo e as universidades, para aquele as universidades são inoperantes – o que não é cabível uma vez que são as pesquisas realizadas por essas instituições que são usadas como referencial em documentos das secretarias municipais e estaduais –, enquanto que para estes criticam as políticas educacionais de cunho populista implementadas pelo governo.
Indagações referentes ao professor da educação básica são levantadas, questões referentes à sua posição ante a pesquisa com o intuito de levá-lo a refletir quanto a necessidade de deixar de ser apenas consumidor de conhecimentos prontos, mas de aprender a fazer seus próprios mecanismos de conhecimento. A pesquisa no espaço escolar como é abordado, não é estranho ou mesmo desconhecida a sua importância, o entrave está na não revitalização da prática do professor que se fecha ao novo, dando continuidade às suas velhas práticas. Mas existem aqueles que se inquietam e buscam combinar as novas informações dando-lhe sentido, recriando-a de modo a adequá-la a sua vivência cotidiana.
O fazer e o pensar são considerados como ações dicotômicas na concepção trabalhista e na hierarquização, em que uns pensam e outros executam. Desse modo na escola quem teoriza precisa ter o cuidado para não se abstrair da realidade da escola e causar um tumulto na realidade já elaborada. O que aspira cuidados, pois em meio a tantas novidades pedagógicas, terias são descartadas e invalidadas a todo o momento. Como agir dessa maneira é um equivoco, é proposta se discutir essa questão por outro prisma, a do questionamento. Assim a é pesquisa pode começar a partir de um “questionamento, de uma pergunta de uma ideia fixa”. Ao partir desse ponto o aprofundamento teórico é imprescindível, para que as respostas entradas tenham sentido, e que novos questionamentos surjam.
Levando em consideração o que chamou de fazer pensado, o professor passa de um simples executor a das ideias de outrem, a construtor e executor do conhecimento e saberes que construiu por meio das indagações feita para conhecer a realidade que o rodeia. Assim, o professor se faz pesquisador quando reflete sobre a sua prática, questionando-a através das respostas obtidas, em busca de romper com o senso comum. E é nesse devir que vai se formando o professor-pesquisador em um constante fazer e refletir.
De acordo com os autores, a proposição de se formar professor-pesquisador no curso de pedagogia pode gerar estranheza, por conta da fissura entre teoria e prática, entre pensar e fazer, o que esta erroneamente atrelada à aplicação inicialmente das metodologias teóricas. E essa separação ocorre não só no espaço acadêmico, mas também no ensino médio. Assim são introduzidas inicialmente as disciplinas teóricas, o que prejudica o estudante por serem descontextualizadas do processo ensino-aprendizagem, as práticas pedagógicas, das relações e do contexto social num contexto mais amplo. Posteriormente são oferecidas as disciplinas ligadas à prática ao como realizar, como as metodologias funciona para posteriormente vim o estágio.
O resultado dessa fragmentação é o choque ocasionado ante as demandas do cotidiano no momento em que os saberes construídos teoricamente não dão conta de responder a todas as questões que emergindo no dia-dia da escola. É nesse momento que si instaura a necessidade de buscar outros saberes que dê conta de responder as dúvidas que vão surgindo, e em um movimento de constante devir a pratica interroga a teoria, que posteriormente atualiza a prática. O que segundo eles não ser fácil uma vez que esse diálogo ente a teoria e a prática esta distante do plano concreto por serem concedidos como processos desvinculados um do outro.
E salientado a importância de se levar em conta durante formação a imprevisibilidade e a homogeneidade que estão presentes no cotidiano da escola, pois uma formação linearizada – do futuro professor – pode leva a o equivoco de acreditar que os métodos aprendidos durante o processo de formação irão dar conta das demandas de todas as turmas e todas as escolas. Pois cada sala, turma, aluno e também as relações estabelecidas tem peculiaridades que precisam ser desveladas durante o fazer pedagógico que é por sua vez cercado pela imprevisibilidade e pela heterogeneidade, características que estão presentes em todas as relações humanas.
A ausência de diálogo entre a teoria e a prática é apontada como entrave para formação docente, no momento em que o professor é confrontado por situações que exige conhecimentos que vão além dos que aprendeu durante seu processo de formação. Dentro da perspectiva de formação do professor-pesquisador, é almejada uma articulação entre o teórico-pratico-teoria, que tem por objetivo o fazer reflexivo, na qual a prática é a norteadora de toda ação pedagógica.
A implantação das atividades de pesquisa no currículo de pedagogia é justificada pela necessidade de levar o aluno e também os que já são professores a refletirem ao tempo que vivenciam o cotidiano escolar. Cujo principio gira em torno da ação e da reflexão, pra compor uma relação dialógica e dialética. E é nesse movimento de ação-reflexão-ação – práxis – que são travados os diálogos que sinalizam as demandas e também alternativas para resolver os questionamentos levantadas. Desse modo a prática é o ponto de partida, o indicador do caminho a percorrer, pois são nos momentos de ação que surgem os imprevistos e os desafios da ação pedagógica. Nesse momento a teoria, como é trazida pelos autores, precisa funcionar como uma lente, que possibilita o professor perceba o que está em seu entorno. Assim ao lançar não de uma teoria, ela será um sinalizador – não uma receita a ser seguida e aplicada sem nenhuma reflexão – do que precisa ser redimensionado na relação pedagógica. Desse modo fica claro o quanto a dicotomia existente entre o fazer e o pensar precisa ser superada ante a  complexidade e existentes no processo pedagógico.