sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da teoria à prática: desafios da ação docente

As atividades de estágio tiverem início no dia 09 de maio de 2011, conheci a turma superficialmente durante o período de observação, no entanto foi com o convívio que pude perceber as peculiaridades da sala de aula, de certa forma posso dizer que foi uma relação de amor e desamor ao mesmo tempo. Mesmo já tendo lecionado como regente de turma por duas vezes nada se compara ao momento de estágio, é como se essa realidade vivenciada nesses vinte dias fizesse cair por terra tudo que acreditava conhecer e saber sobre uma sala de aula! Como afirma Zabala ao mencionar os dilemas que circundam o fazer docente; “[...] os dilemas fazem parte da vida cotidiana nas salas de aula e transforma se em desafio para a profissão. Contudo, [...] pode constituir-se espaço de aprendizagem profissional”. Zabala (2003, p.02). Foram esses momentos de dúvida, desconforto e incertezas que nos levou posteriormente a questionar e a pesquisar quais seriam os mecanismos que iríamos usar para enfrentar as dificuldades vindouras.  A primeira sensação que tive ao entrar em contato com a sala foi de desconhecimento quanto ao gerenciamento de uma turma, tive essa impressão ao perceber que a presença da professora regente me fez temer e me sentir totalmente despreparada para atuar assim pensei: “se ela não sai da sala não vou conseguir iniciar a aula”, mas logo ela saiu e damos início a aula. Creio que tive receio em começar a aula com a professora na sala por vê-la naquele momento como avaliadora da minha ação docente, por isso permaneci por um momento sem reação alguma só observando a sala atônita sem saber o que fazer nem por onde começar.
Mesmo já tendo lecionado o estágio foi uma experiência impar, diferenciada, talvez por encará-lo como um momento de unir teoria e prática no qual pude vivenciar o quanto a prática pedagógica é um processo histórico e intencional em que a escola – mais especificamente a sala de aula – objeto de nosso estudo, não pode ser analisada por si mesma, restrita ao seu cotidiano, senão como parte de uma estrutura da social que por sua vez é determinada pelas condições históricas, sociais e culturais. Durante o estágio tivemos a oportunidade de vivenciar a escola como espaço dinâmico e produtor de situações sociais e culturais ao mesmo tempo em que se apresenta como conjuntura que sofre influencia da sociedade – meio social – que está inserida.  Em meio a esse emaranhado as vezes um tanto confuso as leituras foram fundamentais pra arquitetar as decisões a serem tomadas o que foi muito rico, por ser um prenuncio do que é ser professor. Dessa foram me encontrei na fala de Fontana e Pinto in Pimentel (2004, p.116), que propõem que o enfoque do estágio seja o reconhecimento do aluno-professor da sua própria presença e seu papel no local de estágio. Assim consideram o período de estágio ainda que transitório, um excelente exercício de participação, conquista e negociação.
Como é abordado por Pimentel (2004) o estágio precisa ser um momento em que os fundamentos práticos e teóricos precisam estar juntos em constante diálogo, no intuito de descobrir caminhos, de superar os obstáculos e construir um jeito de caminhar com vistas a favorecer o aluno melhorando sua aprendizagem. E esse momento de vivência na escola constitui-se como elemento revelador da realidade, ou seja, é esse convívio que traz à tona questões que nos levam a refletir e analisar os problemas e suas causas. E é esse olhar curioso que o estágio nos proporciona constitui-se como mola propulsora no processo de pesquisa, de forma que lancemos indagações a cerca da realidade hora vivenciada para assim construirmos conhecimento nesse movimento entre teoria e prática.
O que é bem interessante, pois por alguns instantes cheguei a pensar que muitas das teorias estudadas era engodo, pois parecia que nenhuma teoria daria conta daquele mosaico chamado de “sala de aula”, esse sentimento de impotência veio fortemente quando os alunos gritavam descontroladamente sem motivo algum e nada os faziam para, foi quando me desesperei e senti vontade de ir embora e esquecer todas as teorias até então estudas, embora não tenha sido a única teoria aplicada durante nossa permanência em sala a teoria esquineriana, em alguns momentos pareceu ser a mais adequada. De linha behaviorista a teoria comportamentalista formulada por Skinner sugere algumas formas de controle para o processo de aprendizagem através de adequação das contingências do reforçamento (estímulos) as situações arranjadas são situações na qual o intuito é o de possibilitar ou aumentar a ocorrência de uma resposta a ser aprendida/condicionada. Mais uma vez recorrendo as discussões travadas em sala de durante os encontros percebo o quanto é importante levar em conta as categorias de analise de Gauthier que evoca a questão do planejamento para gerir a sala de aula, momento este que o professor decide quais medidas serão adotadas, quais regras e procedimentos são mais adequados, em suma o professor de acordo com Gauthier carece elencar um conjunto de regras e condições que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem. E foi essa teoria que se ajustou perfeitamente nos momentos de euforia do alunado. Incrível! Ou se comportam ou ficam sem recreio, soava como um antídoto de efeito imediato. Essa foi apenas uma mostra de que é um equivoco pensar que podemos nos posicionar ante a uma teoria e dizer que esta ou aquela é a que será aplicada em uma sala de aula, pois ao longo do processo ensino-aprendizagem as mudanças são constantes, inevitáveis e imprevisíveis. Daí decorre a necessidade de estar constantemente re-significando a ação docente, e o é estágio proporciona esses momentos de reflexão a cerca do fazer pedagógico e da ação docente, pois quando o percebi como campo de atuação é não de experimentos (teorias) pré-elaborados, ficou mais simples atuar como estudante-professor. Como afirma Freire ao mencionar a necessidade de se fazer (aplicar) uma prática pensada, assim “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria /Prática sem a qual a teoria pode ir virando blablablá e a prática, ativismo” (Freire, 1996, p.12). Desse modo quando lançamos mão das teorias outrora estudadas na universidade, teremos clareza que elas são como lupas que nos ajudarão a enxergar a realidade hora vivenciada, para então atuarmos e intervirmos de forma consciente e eficaz.
O que me fez concluir que o cerne do estágio supervisionado é o diálogo entre a teoria e a prática, o que deve ocorrer de forma dinâmica e flexível, uma vez que aquelas são frutos de um momento é de um contexto específico. Realmente não acredito que exista uma teoria que possa dar conta por si só da heterogeneidade que está presente em uma sala de aula, pois são historias de vida que mesmo fazendo parte de um mesmo contexto social e cultural, são diferentes. Cabendo a nos estudantes-professores um olhar apurado e um cuidado especial com cada aluno, respeitando assim seu ritmo de aprendizado, seu tempo!
Outra dificuldade que deparei durante o estágio foi o sentimento de impotência perante a sala creio que isso ocorreu por vê-la como algo emprestado onde tudo que fizesse soaria como efêmero, não por me senti despreparada ou mesmo incapaz, acredito que tal sentimento me adveio por saber que a sala pertencia a outrem, que eu estava ali por apenas por um curto período de tempo, sentia como se tudo que estava desenvolvendo naquele momento eram experimentos que poderiam ser bem sucedido ou não a depender do olhar da supervisora do estágio.
Durante esse tempo de aprendizado me deparei com situações um tanto inusitadas e difíceis de lidar, e um delas que chamou minha atenção e também me chocou foi a condição de uma criança especial da sala. O pouco que conheço de Educação Especial foi o suficiente para perceber o descaso que essas crianças são tratadas, não por serem mal cuidadas, mas, sim por não serem estimuladas devidamente, ou seja, a tão difundida inclusão soa como um engodo uma vez que essas crianças apenas são integradas ao sistema de ensino, mas, não incluídas. Uma questão que precisa ser discutida e aprofundada para que medidas cabíveis e coerentes sejam tomadas a cerca do ensino-aprendizagem dessas crianças.
Passado esse sentimento, posso afirmar que é muito gratificante poder gerir uma sala quando você ouve comentários do tipo: ”Nossa! Eles estão aprendendo mesmo” demonstrando assim o quanto a turma te avançado no desenvolvimento cognitivo ou ainda aqueles que exortam a conduta da turma “quem diria que esses meninos iam se comportar desse jeito”, o que repercutiu em mim de certa forma, como reconhecimento de nosso esforço e empenho; e nesse momento pude perceber o quanto o estágio verdadeiramente é um momento de semear, mas, sobretudo de adquirir conhecimento.  Até chegar a essa conclusão de que o estágio é um momento riquíssimo para formação docente precisei refletir muito para me convencer de tal prerrogativa, pois o considerava apenas como mais um disciplina a ser cumprida, no entanto, foram os momentos de reflexão dentro e fora do campo de estágio que de forma direta ecoou como um facilitador para aquisição de novas percepções, práticas e, por conseguinte trouxe conhecimento e aperfeiçoamento à minha prática pedagógica. Desse modo é valido salientar também o quanto os encontros (aulas na universidade) foram de fundamental importância para construção e aperfeiçoamento de saberes necessários à nossa formação como docente, como afirma (Arroyo 2009, p.94); a cerca da reflexão, “implica reconstrução e reorganização da experiência, o que permite a alteração do significado da própria experiência e o aumento da habilidade da pessoa em dirigir o curso das experiências subsequentes.”
É valido salientar ainda os encontros que tivemos antes e durante o estágio como reforçador e mobilizador
De tal maneira pude reconhecer na disciplina e durante o estágio um espaço interativo de revisão do fazer pedagógico de caráter prático, de trabalho interdisciplinar e de enriquecimento profissional, somando-se a estes fatores, a formação a consciência política e social necessária à compreensão de refletir para construção de um fazer pedagógico coeso com a realidade do aluno, além de contribuir para compreensão e demandas da profissão docente.
Com esta característica, o estágio se apropria de dimensões capazes de instrumentalizar e direcionar atitudes formadoras que nos leva ao confronto direto com paradigmas que muitas vezes já estão instaurados na escola, assim esse é um período no qual somos convidados e estimulados à observação das atuações dos variados segmentos que compõe a escola, à percepção crítica do cotidiano da escola e à análise do real papel que a mesma exerce na vida dos alunos e também da comunidade. Assim tenho o estágio como espaço favorece a releitura e interação do fazer pedagógico, apresentando ao estudante-professor a realidade do sistema educacional, com seus nuances e demandas que exige do estagiário uma dose de bom senso e perspicácia para articular teoria e a prática e agir de acordo às necessidades que lhes são impostas a todo o momento, algo imprescindível para formação do futuro educador.

Um comentário:

  1. Emoção e orgulho foram os sentimentos que ecoaram ao ler suas reflexões. Fiquei a pensar... porque alguns vivenciam tão plenamente (como vc) a formação e outros não. Bom...a resposta vem imediata nas pesquisas sobre histórias de vida e de formação como dizia Nóvoa. Parabéns pela maturidade nas reflexões, vc é de fato uma professora. Gostaria de destacar sua fala:
    Daí decorre a necessidade de estar constantemente re-significando a ação docente, e o é estágio proporciona esses momentos de reflexão a cerca do fazer pedagógico e da ação docente, pois quando o percebi como campo de atuação é não de experimentos (teorias) pré-elaborados, ficou mais simples atuar como estudante-professor.

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